Era um  dia chuvoso quando a paciente chegou ao meu consultório, tinha saído de uma consulta com um dermatologista. Relatava estar cansada de um grosseirão que tinha na pele. Sofria a muitos anos com isso, tendo consultado vários médicos de diversas áreas, mas não conseguiu chegar a um diagnóstico final, e já teria feito muitos tratamentos. Vendo  seu sofrimento, sugeri a ela que fizéssemos uma regressão e vermos se achávamos algo no passado que pudesse explicar essa manifestação no corpo dela.

Como ela era uma pessoa acostumada com a hipnoterapia, foi muito tranquilo para entrar em regressão, pois as técnicas são parecidas. Após um relaxamento, eu a conduzi a uma vida passada onde ela ficou muito surpresa com a clareza que podia ver os fatos.

Eu: Onde você está? O que está vendo?

Ela: É uma cidade portuária, muita antiga.

Eu: Você consegue saber a data? Ou o século?

Ela: Deve ser …… 1300…. 1400, é bem antigo…. eu vejo navios chegando e partindo….

Eu: Como você é?

Ela: Sou uma mulher de uns 40 anos, talvez mais nova….. acho que eu era pobre, bem judiada, suja…. eu estava carregando uma caixa com frutas meio podres, com bichos voando em volta.

Eu: Pra onde você levava essa caixa? Ela era sua?

Ela: Eu tinha ganho por ter limpado um barco…..

Eu: Pra onde levou essa caixa?

Ela: Eu cheguei na frente de uma casa…. de dois pavimentos…. a cidade era suja…. tinha muito lixo… fedorenta…. resto de peixes jogados pelos cantos…. Eu entro pelo um beco que leva a parte de trás dessa casa, onde tem uma escada que leva a uma espécie de porão…. Eu morava ali ….

Eu: Tinha mais alguém ali com você? Família talvez?

Ela: Sim, um homem, que era meu marido…. e três crianças…. meus filhos….. mas era tudo muito sujo…. tinha bichos, ratos, mas nós não nos incomodávamos com a sujeira…. Como a gente podia viver ali?

Eu: (Nesta hora reparei a cara de nojo que ela fazia em ver aquela situação) E o que vocês faziam pra viver?

Ela: A gente vivia de bico…. as crianças catavam coisas estragadas, que encontravam na rua pra gente comer, e eu e meu marido fazíamos bicos ou roubávamos…..

Eu: E porque seu inconsciente levou você a ver essa situação novamente? O que você tem para ver ali?

Ela: Não consigo entender….

Eu: Vamos a um momento mais adiante em que você entenda essa situação….

Ela: Meu marido está doente….. com febre…. e uma das crianças também…. a criança está ardendo em febre….

Eu: E você como está? Preocupada?

Ela: Não pareço preocupada…. parece que estou irritada….. eu digo: “Agora vou ter que fazer tudo sozinha! É sempre assim….”

Eu: E o que acontece depois?

Ela: Nós dormimos, e no outro dia, saí cedo procurar algo pra comermos…. as pessoas estavam assustadas…. tinham várias morrendo…. muitas pessoas doentes…. e os dias seguem assim….. Volto pra casa, não me sinto bem, meu marido e filho estão pior…. me deito um pouco…. acordo ardendo em febre, e as duas outras crianças também não se sentem bem…..

Eu: O que você faz?

Ela: eu e meu marido saímos na rua e vamos conversar com um homem que indicava chás pras pessoas, uma espécie de botânico….. enquanto andamos na rua, encontramos com pessoas piores que nós, parecem estar apodrecendo…. todos dizem que é um castigo de Deus…..

Eu: E o que você acha?

Ela: Estou apavorada….. não quero morrer….. e as pessoas estão morrendo…..

Eu: E você falam com o botânico?

Ela: Chegamos na casa dele …. paramos em frente….. chamamos….. mas ele não está….. resolvemos entrar, pois a porta está encostada….. MEU DEUS!!!! (Nesta hora ela grita apavorada)

Eu: O que está acontecendo? O que está vendo?

Ela: ELE ESTÁ PODRE! ELE ESTÁ PODRE! MORREU! EU VOU MORRER!

Neste momento pedi para ela dissociar e ver a cena de fora….. para não passar pelo sofrimento novamente…..

Ela: (Chorando muito) Meu Deus! Não temos mais chance! Senhor….. está aparecendo manchas no corpo do meu marido!!!

Eu: Vamos para um momento mais adiante para ver o que aconteceu …..

Ela: Meu marido está morto e dois dos meus filhos….

Eu: E a outra criança? E você como está?

Ela: (Volta a chorar) A dor é muito forte….. eu estou sozinha….. acho que a outra criança morreu….. Eu vou morrer….. eu estou morrendo…… (Neste momento ela grita, chorando desesperadamente) Eu morri….. Eu morri sozinha…..

Eu: O que acontece depois disso? Foque na cena.

Ela: Meu corpo apodrece…. ninguém me encontrou…. estou lá …. dia após dia…

Eu: E como você está agora? Não o seu corpo, mas a sua essência?

Ela: Toda cheia de bolhas….. a pele é em alto relevo….

Eu: Quero que você se coloque de frente para essa sua existência, olhe pra ela….. Não tem mais pele…. não tem mais corpo…. não tem mais feridas…. nem mais dor….

Após esse momento fizemos um trabalho de resgate e cura para essa existência dela…. Que foi muito comovente….. Me senti muito tocada pela cura do seu espírito, naquele momento.

Após três meses e com outras sessões, de cura interior, resgate da sua essência, tratamento da criança interior, eu tive um feedback muito positivo da paciente….. dizendo não sentir mais nada em sua pele… Essa é a maior gratidão e incentivo que pude receber…. Foi emocionante…. Choramos abraçadas…. foi realmente um trabalho de cura fantástico. Ela se curou! A fé dela, a salvou!

Quero agradecer essa querida paciente pela sua disponibilidade e generosidade em compartilhar sua história, pela sua confiança, por todo aprendizado que tive com ela.

Se vida passada existe ou não, se é uma história tirada do inconsciente coletivo, se tudo isso foi uma metáfora inventada por sua alma para ajuda-la a se libertar, não me importa. O que me interessa é a melhora do paciente.

Vou ficando por aqui! E até a próxima História de Regressão!